Por que nunca estamos satisfeitos com o que temos?

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Gosto de pensar que estou no Brasil de passagem.

Quando falo algo do tipo, fico com medo que me entendam mal. Não é que eu seja um moleque mimado insatisfeito com tudo, muito menos que não goste do Brasil, pelo contrário. Mas depois que fiz minha primeira viagem internacional em 2010, simplesmente me apaixonei por conhecer lugares diferentes e viver novas experiências. E estando no Brasil essa imersão em mundos novos fica mais complicada. Não consigo ir atrás do que eu quero estando aqui.

Mas quando estive no exterior, também senti saudade de casa.



Saudade de casa...

Tava no Instagram vendo umas fotos e achei uma em que a menina reclamava algo assim na legenda: "não aguento mais ficar aqui em Orlando, tô com saudade de casa, dos meus gatos, do meu não sei o quê....". E me identifiquei.

Pode ser até difícil de entender. À primeira vista a gente pensa: "como que tá reclamando de estar lá numa boa viajando, conhecendo picos novos?". Mas às vezes só de passar o dia fora de casa já sentimos saudades do nosso quarto, como negar a possibilidade de um viajante sentir falta do seu país estando bem mais longe? Amo viajar, mas sempre que viajei fiquei homesick.

Morar por quase 2 anos na China foi a experiência da minha vida, mas mesmo assim na finaleira eu tava com muita vontade de voltar pro Brasil. Algumas coisas do país oriental estavam me incomodando e a vida no Brasil já parecia muito mais atrativa. Na terra em que nasci, poderia ver meus amigos e familiares quando quisesse, poderia me comunicar em qualquer lugar e poderia encontrar coisas como nescau no supermercado sem dificuldade, coisas que não estavam ao meu alcance lá do outro lado do mundo.

Comida e futebol: no grupo "Brasileiros na China" do FB é fácil encontrar saudade

Quando estive na Europa e na Colômbia, senti o mesmo. A vontade de parar de viajar, oposta à vontade de viajar que sinto normalmente, chegou a ficar grande. Dessa vez não por sentir falta da família ou de nescau, mas sim pela fallta de tranquilidade. Viajar cansa. Principalmente quando você tá pulando de um lugar pro outro, de uma cidade pra outra a cada 3 dias ou algo do tipo, uma hora pode começar a sentir falta de algo mais contínuo na vida. Ficar trocando de "moradia" toda hora e ter que sempre catar as roupas de dentro da mala não é tão divertido.

Quem nunca pegou aquela comida que mais ama, comeu igual a um búfalo faminto e ficou um pouco enjoado da comida por algum tempo? Com viagens não é diferente. Ter muito daquilo que você quer, às vezes acaba se tornando algo que você não quer.


... ou vontade do que não temos?

No Brasil, dá vontade de viajar porque as coisas aqui são sempre parecidas. O cara quer ver paisagens diferentes, conversar com gente de outros lugares, escutar idiomas desconhecidos, experimentar novos sabores. No exterior a situação se inverte: saudades das comidas que cresceu comendo, das pessoas com quem convive diariamente, da própria casa, de ter um espaço pra guardar as coisas. E esse fluxo de estando aqui quero lá, estando lá quero aqui, gera um estado contínuo de insatisfação que faz a pessoa querer estar em lugares onde não está, ou querer as coisas que não tem.

Esse papo todo sobre viagem é só pra ilustrar um tema maior: nossa insatisfação com o agora.

Lutamos pra entrar na faculdade, e depois rezamos pra sair. Quando jovens, queremos fazer 18 anos pra poder dirigir e comprar bebidas, mas logo depois a idade não nos satisfaz mais. Muita gente compra um celular, fica feliz no começo mas logo depois já tá procurando um modelo novo.

É aquela velha história: queremos o que não temos.

Por que nunca estamos satisfeitos com o que temos?
"Amo o seu cabelo liso". "Eu adoraria ter o cabelo cacheado como o seu". Imagem original.

Isso pode ser algo bom. Por querer mais e ir além, quebramos recordes no esporte, desenvolvemos novas tecnologias e por aí vai. Talvez não progrediríamos, tanto a nível coletivo quanto individual, se as coisas normais e mundanas do dia-a-dia nos mantivessem felizes e satisfeitos sempre. Mas na vida pessoal querer sempre algo que não temos pode ser um truque do nosso cérebro para dar sentido à alguma coisa. Criar um falso objetivo, ainda que não vá trazer um ganho real no final das contas, para sentirmos que temos um caminho a seguir. Ou um truque para adiarmos as nossas responsabilidades de agora para depois: "quando comprar aquele carro aí sim vou poder fazer várias viagens", "quando dobrar meu salário aí sim vou poder viver mais tranquilo", "quando tiver uma namorada aí sim vou me sentir amado e ser feliz".

O problema é se o cara achar que o próximo passo vai trazer felicidade absoluta e que a situação atual tá uma porcaria. O que vem depois sim é que vai ser o bicho, já que o que temos agora não serve mais. É o erro de focar no futuro e deixar de aproveitar o presente.


O AGORA é sempre o melhor momento

Pensei nisso esses dias depois de ir pra praia do Campeche, perto da casa da minha mãe. Sentei lá e por um momento tudo era perfeito. O vento batia fraco, mas fresco. A praia, extensa, tava bastante vazia e silenciosa. O sol se punha meio que atrás de um punhado de nuvens e pensei: "por que diabos iria querer ir embora daqui?". Moro numa cidade lindíssima que é Florianópolis, tenho amigos e família por perto, posso comprar nescau em qualquer supermercado e ainda conversar fluentemente com qualquer um a qualquer hora. O que mais poderia querer?

Sou um pouco movido à novos desafios, gosto de ver coisas novas. Tenho feito quase todo o possível pra criar uma oportunidade e me mandar pra terras gringas. Mas venho me educando a sempre lembrar de aproveitar o que tenho aqui. O que tenho aqui já é bom pra caralho. O que você tem nesse momento provavelmente também é, basta saber aproveitar.

Até as coisas mais óbvias podem ser aproveitadas. Tô há dias mancando, com o tornozelo estourado, e sinto falta de poder andar livremente pra lá e pra cá, subir as escadas sem dor nem dificuldade. Basta uma vista cansada pro cara perceber o quão bom é enxergar tudo claramente. Basta a internet cair pra gente enlouquecer e ver como ter ela sempre funcionando é uma maravilha.

A felicidade não está sempre no próximo passo, muito menos no fim do caminho, está nesse exato instante, no exato lugar onde você está, no que você tem agora. Só precisamos lembrar de olhar pra ela.






CARA! Sou sedento por feedback de quem lê os textos aqui. Diz aí nos comentários se você concorda ou discorda. Ou me diz lá no twitter o que achou do post! ;))


6 comentários:

  1. ADOREI ! Realmente, nesse texto só tem verdades ! Ambição é sempre bom. Aliás, se soubermos como usá-la ! Como disse, podemos usar a ambição para querer mais e mais, descobrir mais, desenvolver mais, aproveitar mais, alcançar mais alto ! Mas também, há muitos que ao invés disso, usam ela da forma desnecessária, querendo trocar de celulares todo ano, querendo mais e mais coisas, nunca estando satisfeitos com o que têm (Tema do texto.)... Cara, você é foda ! Simplesmente !

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    1. Nossa maninho, muito obrigado pelo comentário e pelo elogio! Conta muito de verdade! ;))

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  2. Viver no aqui e agora... vi muitos filósofos e gurus orientais falando isso mas nunca consegui alcançar esse nível de consciência. Mas já puxei o freio diversas vezes ao parar de fazer tudo e contemplar a mim mesmo naquele exato momento. Você deu ótimos exemplos: é bem verdade que quando perdemos a funcionalidade em algum aspecto aprendemos a dar valor ao que antes era tão banal e óbvio e agora faz falta. Cara, na real, terminei de ler o seu texto com a sensação de não ter desencavado tudo que está nele, vou ter que lê-lo mais alguma vez para compreendê-lo melhor - nas entrelinhas...

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    1. Só espero que a sensação de não ter compreendido tudo não venha do texto estar mal escrito. Mas fica à vontade cara, lê quantas vezes quiser! :D\

      Valeu por passar por aqui!

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  3. Acho sensacional essa coisa de você ter ido morar longe pra conhecer o mundo, e seus textos expressarem claramente a influência disso nos seus pensamentos. Tu não teve "sorte" de ter ido morar na China. Você foi porque você se fez ir pra lá, e isso é foda pra caralho. É a coisa mais aparente dos seus textos, tipo uma assinatura.

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    1. Que legal de ouvir, Bruno. Obrigado mesmo, de verdade!

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