Esqueça o embrulho: Por que NÃO dar presentes

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Por que não dar presentes

Na minha caixa de coisas para doar, vender e jogar fora, jaz um boné de aba reta.

Desde a 5ª série eu não uso boné. Não gosto e não acho que fica bom em mim. Se fosse usar um boné, com certeza não seria um de aba reta. Nada contra a aba reta, usa quem quer, mas é um acessório que provavelmente eu nunca gastaria meus dinheiros para comprar. Mesmo assim, alguém achou que era uma boa ideia me dar um boné de aba reta.

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O problema com os presentes

A pessoa em questão certamente quis me agradar. Certamente gastou tempo procurando por um presente e uns bons trocados comprando-o. Mas mesmo assim, deu um presente que jamais vou usar - e que sequer tirei a etiqueta.

Não tenho a menor dúvida que você já passou por situação parecida. Se não passou, talvez você esteja do outro lado. Talvez tenha dado um presente sem saber se a outra pessoa gostaria, só porque tinha que dar presente.


Boné aba reta
De marca e aba reta: nada contra, mas não uso boné

O problema em dar presentes em datas comemorativas é que o ato é fabricado, é obrigatório. Dia das mães, dos pais, de qualquer outra coisa, aniversário, natal, aniversário de namoro e por aí vai: a lista de datas é imensa. Em todas elas, ou pelo menos em grande parte, o universo espera que você dê um presente físico para uma outra pessoa. Há pessoas que chegam a ficar chateadas se não recebem presente, como se elas fossem menos significantes para quem não dá um embrulho com fitinha. Como se a sua mãe, namorada ou amigos fazendo aniversário só se sentissem importantes e prestigiados ganhando coisas dos outros. É uma convenção social do pior tipo possível. Daquele tipo que seguimos sem nunca parar para pensar sobre. Damos presente porque "temos" que dar, porque sempre foi assim e sempre será.


Por que não dou presentes forçados

Convidado para o aniversário de um amigo, um outro brother me perguntou se eu levaria algum presente. Eu disse que não, que nunca dou presente pra ninguém.

Não dou nada para minha mãe no dia das mães, nem para o meu pai no seu aniversário, nem comprei nada para a minha mulher quando completamos cinco anos juntos. Me recuso. Não porque não ache algumas dessas datas legais, ou porque não me importe com as pessoas, mas simplesmente porque não me entra na cabeça que uma simples data deve me forçar a fazer uma compra só porque as coisas são assim. Devo obrigatoriamente sair de casa e procurar um presente, mesmo que não saiba o que a outra pessoa gostaria, ou que não tenha muito dinheiro, ou que odeie fazer compras, só para validar aquela data tão especial?

Creio que, parando para pensar sobre, algumas das coisas que aceitamos como normais caem por terra. Por exemplo: terno para mim é desconfortável, caro, difícil de cuidar e nada elegante. Numa sala cheia de gente usando terno, todos estão vestidos iguais, buscando uma suposta elegância ou aparência profissional que foi estabelecida há seculos e que se manteve até hoje sabe-se lá por qual motivo. Presentes envolvem uma lógica semelhante.

Presente obrigatório pode ser uma frustração para os dois lados. Quem dá muitas vezes compra sem segurança, sem saber do que a outra pessoa quer ou precisa, e gasta um dinheiro desnecessário com isso. Quem recebe, frente à um presente que não lhe satisfaz, fica com um pepino duplo na mão: primeiro tem que arranjar algo pra fazer com aquilo, ir na loja trocar, vender ou algo parecido; segundo que normalmente precisa exercitar sua falsidade e dizer que gostou na frente da outra pessoa, sendo que no fundo não gostou nada, não gostou muito ou até achou legal, mas o presente é inútil ou irrelevante. É difícil ser verdadeiro na frente de alguém que tentou lhe agradar, mas o mais correto seria dizer: "agradeço muito mesmo, de coração, mas não uso boné".

Procuro fazer diferente.


Como presentear

Passei um dia feliz pra caramba, lembrei do meu amor e parei na floricultura. Comprei alguma coisinha e levei pra ela, no meio da tarde, em um dia qualquer. Fiz um bolo delicioso, lembrei de um amigo que não falava há tempos e passei na casa do cara com um pedaço. Minha mãe comentou que precisava pintar as paredes da casa e passei 4 dias lá com o rolo na mão. Se leio um livro que cairia como uma luva para uma pessoa específica, compro e presenteio.

Quem manda é a minha própria vontade de presentear, ou as necessidades e gostos da outra pessoa. As datas não mandam nada. Datas são números. Meu ponto de vista sobre datas raramente ganha adeptos, mas em geral não ligo tanto pra elas. Claro que tem importância, mas não deveriam determinar o que você faz ou deixa de fazer. Se as pessoas em geral dão valor aos seus aniversários, então sua presença, companheirismo ou palavras sinceras, ao invés do tradicional "parabéns e tudo de bom" acompanhado de um presente duvidoso, são certamente mais valiosos. Ou pelo menos eu valorizo muito mais.

Fora alguns sem erro, como o Super Nintendo que ganhei quando era criança ou a biografia do Steve Jobs que recebi depois de estar há tempos atrás, alguns dos melhores presentes que recebi eram de uso certo e imediato. Minha vó costumava me dar 10 pilas em um envelope e eu os usava com astúcia, comprando balas e salgadinhos. Um dos melhores presentes que já ganhei foi em um amigo secreto da faculdade: uma menina me deu um kit com 2 cervejas, 1 pacote de amendoim salgado e um baralho de truco. Tem coisa mais a ver comigo? 10 pilas da vovó e kit da cerveja: tudo tem uso certo e a felicidade de quem recebeu é garantida. É assim que prefiro.

Paçoca paçoquita de presente
Se quiser me presentear, é Paçoquita e não tem erro

Compare duas situações. Na primeira, você não sabe bem o que dar de presente para alguém. Anda e anda no centro da cidade, ou em um shopping, até encontrar alguma coisa. Acaba comprando uma daquelas coisas aleatórias, tipo um box de cuecas, um jogo de copos, um DVD do Capital Inicial ou uma peça de roupa. Como é natal ou aniversário da pessoa, ela recebe muitos outros presentes de igual falta de importância. Na segunda situação, você passa anos sem presentear a pessoa. Em uma data completamente aleatória, do nada, pensa em algo que ela realmente vai gostar, ou prepara um presente com mais valor emocional, tipo uma mensagem bem bacana e sincera ou algo com fotos antigas de vocês. É surpreendente, inesperado. É autêntico e vem de dentro. Acho que você concorda: em 10 anos, ela vai lembrar desse presente inesperado, mas talvez não lembre de tantos outros que ganhou anualmente de outras pessoas.


Trocar presentes por boa causa
Casal abriu mão de torradeiras e bandejas de café da manhã por uma causa nobre. Fonte: olharanimal.org
Dar presente por obrigação é custoso, trabalhoso. É falta de criatividade, é deixar um número definir como você demonstra o afeto pelos outros. Não é autêntico, original, espontâneo. Não marca. Muitos, senão a maioria, acabam esquecidos.

Presente ménage a trois
Resultado de uma frustrada busca obrigatória por presente. Fonte: testosterona.blog.br

Sua presença, palavras sinceras ou até produtos mesmo, não importa. Quando vem de dentro, na data que for, com vontade e certeza, o presente, por simples que seja, marcará mais.











Se chegou até aqui, me dê um presente e deixe um comentário abaixo. Esse é daqueles 100% sem erro, com certeza eu vou gostar! Me diz se você concorda ou discorda ferozmente. Talvez você seja uma daquelas pessoas que ama dar/receber presentes e não tem nada de errado com isso, mas me avisa aí embaixo!


23 comentários:

  1. hahah
    Eu adoro dar presentes. Para o meu sobrinho de 7 anos principalmente, e dou algo sempre que o vejo, e vejo ele com frequência. Legal vc ter falado do bolo, justamente... meu último presente a ele foi um bolo no sábado passado com muita cobertura de chocolate. Ele amou! E o pior é que eu quase nunca me contento com um único presente, sempre são várias coisas... 3, 4... 5 :S
    Mas eu acho que este post vai me fazer pensar um pouco mais sobre isto.
    Obrigada.

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    1. Legal Lilian! Se a pessoa gosta mesmo de dar presentes, não vejo problema algum. Minha crítica é mais na compra de presentes forçados, só porque nos sentimos obrigados a dar alguma coisa. De qualquer forma, sempre vale a reflexão. E vamos combinar, quem não gostaria de um bolo com muita cobertura de chocolate? haha :P

      Obrigado pelo comentário!

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  2. Me inscrevi no canal e concordo com o texto. Não queria comentar nada aqui porque estaria entrando na obrigação de te "presentear".
    Mas como já comecei vou prosseguir.
    Depois que li o livro "Eu Sou O Mensageiro" do Markus Zusak (autor de A Menina Que Roubava Livros) passei a ter uma visão como você mencionou no tópico Como Presentear.
    Eu já agia desta maneira, mas o livro parece que me deu um incentivo a mais para continuar fazendo desta maneira.
    O cara do livro é um taxista jovem e recebe umas cartas de baralho com algumas informações e através dessas informações ele começa a perceber as reais necessidades das pessoas e tenta fazer algo.
    Sem mais spoilers do livro. Eu acabei presenteando este livro pra um amigo.

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    1. Interessante, Rodrigo. Vou dar uma olhada nesse livro, gostei da premissa!

      Obrigado por se inscrever no canal e por me "presentear" com seu comentário! :D

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  3. Concordo cntg. Gosto de presentear sem data específica e somente dou aquela coisa que a pessoa tanto queria ou que eu sei que ela vai gostar:)

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    1. Esse é o espírito! Pra mim é muito melhor, mesmo que signifique longos períodos de tempo sem dar/receber nada :))

      Obrigado por comentar aqui Laine!

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  4. Não vejo nada de errado dar presentes para uma pessoa e essas datas comemorativas (até porque vou ser empresário então essas coisas não pode deixar de existir rsrsrs) e dos presentes errados ?? Se não der fala que vc e um bosta se vc der fala que um presente lixo e complicado.Nunca gostei de ser ajudado ou receber presentes acho que recebi tantos na minha vida,que parti a odiar isso so mais aquele que dá presentes para pessoas proximas que realmente tenho uma laço afetivo e não pra sei lá um primo dos meus tatatatatta avó sabe.

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    1. Poisé, se a pessoa gosta de dar ou receber presentes, não há nada de errado. Mas comprar as coisas de forma forçada, só porque "tem" que presentear um fulano da 3ª geração da família no dia do aniversário, aí é treta. Concordo contigo, prefiro presentear pessoas mais próximas e quando eu tiver um motivo mais íntimo para fazê-lo, não só porque uma data me obriga.

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  5. hahaha concordo PLENAMENTE. Nos primeiros anos com meu companheiro, a gente tentava trocar presente, era uma b**** , sério ... além de errar, errava feio, tipo vc ganhando o boné de aba reta ... ai na época, eu era mais nova achava super insensível, que ele não prestava atenção em mim , blá blá blá ... ai com o tempo paramos com isso. Em relação a presentes no geral, só dou um presente quando sei q a pessoa quer alguma coisa, ou presente pra crianças (de preferencia aquelas coisas q da pra jogar fora depois sem sentir dó (livros de colorir, fraldas ...). Mais vale a pessoa me dar um chocolate inesperado, do q gastar mor grana dando algo que eu não quero.

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    1. hahaha que interessante o seu caso! Concordo com tudo o que você falou, principalmente a parte de ganhar um chocolate do nada ao invés de um presente nada a ver. Obrigado por comentar aqui, Beatriz! ;D

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  6. Ola amigo me fez relembrar de minha Avó quando citou os 10 Pilas que ganhou,ela abria minhas maõs e inseria um agrado que era sempre de utilidade imediata rs.Também sou avesso a essas convenções de datas.Porém é nadar contra a maré com tantos apelos comerciais etc rs.Fico com você e procuro do nada fazer agrados sem que a pessoa esteja esperando e a surpresa sempre tem um sabor especial..valeu

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    1. Isso mesmo, amigo. De fato surpreender tem um sabor muito maior, para quem recebe mas para quem dá também. Obrigado por comentar! ;)

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  7. Muito bom saber de outros casos!! Aff sou assim, não gosto de presentear, detestoser convidado para eventos, principalmente aqueles que ja ta na cara a "obrigação" de presentear! Meio raro eu ter dinheiro sobrando, as contas sempre pagas, mas o dinheiro nem sempre sobra, ai quando sobra é que aparece mais eventos ainda... a minha esposa é totalmente o contrário, tanto que pra ela tem hora que parece o fim do casamento, a escolha errada... pq eu digo não pra comprar presentes para outras pessoas.
    Dinheiro não é tudo, mas no Brasil faz muita falta, por tanto prefiro não cair nos braços do consumismo, prefiro não seguir a "manada".

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    1. A obrigação de dar presente já é uma imposição tosca em si, mas fazer isso quando estamos sem grana é pior ainda. Não vale a pena comprometer a própria segurança financeira para agradar outras pessoas de forma forçada e breve. Obrigado por comentar!

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  8. Gostei, achei mt oportuno nesta sociedade consumista a abordagem desta reflexão! O presente na vida de quem te gosta é vc. Uma lembrancinha eventual, expontânea é bem mais significativa. Brigado pelo pensamento de presente!

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    1. Verdade Ricardo! Eu que agradeço pelo teu comentário!

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  9. Até que enfim encontrei alguém que pensa e concorda comigo!!!!
    sou contra o consumismo!!!

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  10. Caramba, nunca li algo que me identificasse tanto! Você resumiu TUDO o que penso!

    Eu nunca gostei de ganhar presente pq sempre me deram coisas inúteis ou nada a ver comigo que eu deixava entulhado. Fora que, por sermos os pobres da família, tudo que era tranqueira nos davam, e tínhamos que aceitar rindo. Então criei ranço. Concordo demais com o presente aleatório. É mais sincero.

    Nunca dou nada pra minha mãe de dia das mães, raramente dou presente em aniversário pq sempre to na corda bamba e nunca que vou gastar pra fazer bonito e ficar (mais) sem grana. Simplesmente me recuso. Em compensação já dei coisas fora de época pra pessoas que se lembram com carinho. Amei o texto e a reflexão!

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    1. Natalia bem isso que você descreve. Alem de eu nao gostar, Estou desempregada e nao tenho condicoes financeiras para distribuir presentes e mesmo assim a sensassao que tenho no meu caso é que as pessoas meio que querem ganhar presente mesmo que vc nao tenha dinheiro que se individe mas de presente.

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  11. Nossa amei o texto exatamente o que penso e sinto em relação a presentes, nao a questao de presentear por si só,mas a ideologia que ha nela. Não sou uma pessoa que faz conta de ganhar presentes, quanso eu namorava ganhava e presenteava de forma expontanea mas nao como a maioria dos casais que eu conhecia ,depois que casei simplesmente acabou isso rs meu marido e eu somos totalmente desapegados disso,somos ligados no ato dedemonstrar afeto com palavras e fisico,todo o tempo super romanticos porem nao me importo de ganhar presentes pra mim nao tem coisa melhor do que sentir que a pessoa me valoriza, e o complicado é que minha familia é diferente e sinto que cobram isso principalmente minha mae, embora nao me presenteiem rs cobram em datas comemorativas,mesmo q eu sej super atenciosa esteja ali o tempo todo etc. Indico a leitura do Livro AS 5 LINGUAGENS DO AMOR pessoal livro maravilhoso para esse assunto pois aborda as 5 formas que cada pessoa podem ter de demonstrar amor e logo tambem sentir atraves da forma

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  12. GOSTEI DO TEXTO. ME FEZ REFLETIR MUITO.

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  13. Eu odeio simplesmente por gerar uma obrigação que gera. Eu detesto sair pra comprar alguma coisa pra mim, pra outra pessoa então é um sacrifício. Mas fazer o que, a convenção social exige isso. Com o diria o Sheldon: você não me deu um presente, me deu uma obrigação.

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  14. Pior situação ainda é quando não temos o dinheiro para comprar presentes

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