Estou desempregado.
Quem acompanha o blog sabe que eu tenho - ou tinha - um emprego bem legal. Trabalhava com games, o que era meu sonho e talvez seja o de bastante gente.
Se você quer saber mais detalhes, conto aqui como consegui esse trabalho.
Resumindo: há um tempo atrás, decidi que se fosse pra trabalhar para os outros em um escritório, seria com algo que eu gosto. Tomei essa decisão no pior momento possível, pois estava desempregado, sem moradia e sem dinheiro em Guangzhou, na China.
Com muita procura, dezenas e dezenas de currículos enviados, cartas de motivação escritas e uma pitada de sorte, encontrei um emprego numa empresa de games. Amo games, o que melhor que trabalhar numa empresa relacionada a algo que a gente ama, não? Mas acabei indo embora da China. E quando saí de lá, tinha só 6 meses de empresa. Chamei meu chefe pra bater um papo e falei: "chefia, sei que ninguém na empresa trabalha à distância, mas eu gostaria que vocês considerassem me manter trabalhando assim. Estou indo embora da China mas não quero abandonar esse trabalho." Para o meu espanto, essa grande aposta deu certo, meu chefe e o RH aprovaram e voltei pro Brasil, trabalhando normalmente do conforto da minha casa.
Eu trabalhando. MENTIRA! Claro que não é assim, né! Nem perto. |
E mais, comecei a ter aumentos mensais no meu salário. A lógica é simples: com o dólar em alta progressiva, meu salário recebido na moeda americana me rendia todo mês um pouco a mais do que no mês anterior. Era muita alegria pra um rapaz só.
De casa, com jogos, ganhando em dólar.
Uma combinação bem bacana que eu curti muito, tanto é que trabalhei assim por 12 meses. Mas as coisas mudam na vida.
E no último dia de julho, me demiti.
Por que pedi demissão?
"O quêêê? Pedrão, você tá maluco!?"Não vou dar muitos detalhes dos motivos pelo qual saí, não seria profissional da minha parte, mas em resumo eu mesmo não estava mais conseguindo me motivar a fazer o que deveria fazer.
Quando pedir demissão começou a passar na minha cabeça, fiquei feliz. E quando você fica feliz com uma oportunidade que está ao alcance das suas mãos, é melhor agarrá-la. E fui o que fiz. Pedi demissão. (Lembra da história do Rui? Ele teve uma experiência semelhante!).
Saber quando pedir demissão é bem difícil. Muita gente tem medo de não encontrar algo bacana depois, ou de ficar sem grana, ou tem filhos pra sustentar e não pode se demitir. Entendo tudo isso. Não tomei uma decisão maluca do nada. Me preparei pra pedir demissão: tenho planos, guardei um trocado pro caso de a coisa ficar ruim e venho fazendo um extra com meus freelas. Mas se você pensar na ideia de largar seu trampo atual e der um sorrisinho, nem que seja só mentalmente, talvez seja hora de agir e tentar algo novo.
Próximos passos de um desempregado
Trabalhar com jogos é MUITO legal. Às vezes quando rolava alguma coisa ruim no trabalho - e rola em qualquer um, em qualquer empresa - ficava me lembrando: "Cara, não tem como eu reclamar. Jogar literalmente faz parte das minhas tarefas diárias". Assim desistia de reclamar.Saí deste emprego, mas sem dúvida não desisti de continuar trabalhando com algo que gosto. Futebol, jogos ou viagens: esse é o tridente de assuntos que persigo, quero trabalhar com um deles. Recomendo a qualquer um mudar para uma empresa que faça algo que você goste mais. Mesmo sem mudar de cargo, dá pra ter mais prazer trabalhando. Se você é vendedor, por exemplo, é bem mais bacana vender comidas naturais, se você é natureba como eu, do que trabalhar com conectores eletrônicos, placas de metal ou minério de ferro (considerando que você não seja entusiasta dessas coisas).
Enquanto não encontro um trabalho fora do Brasil - quero muito ir experimentar uma cultura diferente e mudar para o exterior de novo - vou tentando me consolidar como freelancer. A ideia é conseguir gradativamente pegar projetos que paguem melhor e que forneçam algum tipo de segurança, como um mínimo de horas por semana. Não gasto muito por mês para me manter e confesso que já ficarei tranquilo fazendo dinheiro suficiente apenas para pagar as contas. Trabalhar menos, ter mais tempo livre e um pouco de descanso fazem bem pra qualquer um.
"Eu odeio o meu trabalho"
Eu não odiava meu trabalho de forma alguma. Tanto é que pedi pra ficar nele quando fui embora da China. Minha saída se deu mais por um desgaste natural. Mas tem muita gente que não aguenta o trabalho, que vê o fim de semana como uma libertação. Não precisar trabalhar é ter tempo pra viver e ser feliz. Para essas pessoas, só posso repetir algo que falo muito aqui no blog: a vida é curta, temos que aproveitar cada momento.Link para a foto original |
Muitos de nós queremos fazer algo que gostamos, temos certos objetivos bacanas em termos profissionais, mas vamos perdendo essa gana um pouco por vez, dia após dia, semana após semana.
Desistimos e nos contentamos com empregos que não gostamos, só pela grana. Mas trampar assim é uma fonte inesgotável de frustrações. Se você está num trabalho que não gosta, trabalhando 8 horas por dia, 5 dias por semana, 50 semanas no ano, é difícil ser feliz. Às vezes vivemos pra trabalhar, enquanto deveríamos fazer o contrário.
"O que você é?". Deixamos nosso trabalho definir quem somos. E pra quê? Bom, muita gente rala pra conseguir botar comida na mesa e pagar as contas. Mas vamos combinar, bastante gente também rala só pra acumular mais dinheiro e comprar coisas extras que podem até acrescentar um pouco de qualidade de vida, mas não são a diferença, não vão te fazer se sentir completo.
Infeliz realidade para muita gente. Link para a foto original. |
Aí as pessoas ficam nesse ciclo eterno de trabalhar forçadamente, tendo pouco tempo pra si mesmas, torcendo pra sexta-feira chegar, para poderem se entorpecer no fim de semana. Tudo por uma grana que muitas vezes não é suficiente e quando é, muitas vezes não faz uma diferença verdadeira na vida. Sem contar que estresse e infelicidade no trabalho podem gerar outros efeitos colaterais, como te fazer beber mais, fumar mais, se exercitar menos, cair na depressão e acabar com a saúde.
Link para a foto original. |
Quando pedir demissão?
Dane-se tudo isso. Se você estiver profundamente infeliz no seu trabalho, prepare o terreno direitinho e mande tudo pro espaço. Demita-se. Chame de clichê, mas a vida é sim curta e vale a pena arriscar para buscar algo que profissionalmente nos apeteça mais, nem que seja só trocar o produto que você vende por algum que goste mais.Quando a ideia de pedir demissão passar a te fazer feliz, comece a planejar.
Guarde uma grana, pense num plano B, mas não fique sofrendo miseravelmente no trabalho para sempre. Pegue a sua vida e viva agora. Trabalhar infeliz pensando na aposentadoria, quando você estará velho, estressado e querendo não fazer nada, é conversa fiada do século passado.
Leitor! Se este texto ajudou você a pensar em quando pedir demissão - ou se você achou a maior ladainha dos últimos tempos - deixa um comentário! Eu não me importo se você postar como anônimo! Ou passa lá no twitter pra me falar o que achou do post! ;))
Me identifiquei com seu relato. Claro, largar aquilo que não vem te fazendo bem é a melhor solução. Porque fazer o que gostamos faz toda a diferença, tudo flui melhor e com uma leveza incrível. E o leque de possibilidades que vem a seguir é o elemento "X" que todo mundo procura.
ResponderExcluirTentei ponderar bem no post que depende muito da situação. Mas quando o cara tá realmente infeliz no trampo, muitas vezes o melhor é mudar mesmo. Valeu por comentar! ;))
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ. ..... me identifico com várias coisas. Vc está bem certo em tudo, no meu caso, me dei conta que faço o que gosto em uma empresa que amo (falta amar o que eu faço), parece exagero, mas não é, pois se tiver que aguentar a pressão e o estresse do dia a dia, eu tenho que amar o que faço, gostar não basta. Estou me organizando financeiramente para ir para o exterior ano que vem, mas talvez eu não volte! Vou fazer o impossível para conseguir fazer o que de verdade em uma empresa que amo da mesma forma!
ResponderExcluirNo meu caso, pedido de demissão será por telefone mesmo!
E vamos ser felizes em tudo, porque só o fato de ter que sobreviver todos os dias já é um grande desafio e bem difícil. Não quero sobreviver, quero VIVER!
Monica, sua última frase é a ideia básica por trás de muitos dos posts aqui do 2Bits! Muito obrigado por comentar e toda a sorte no que você decidir profissionalmente! ;))
ExcluirQueria conhecer história de profissionais de verdade, com profissões relevantes, que se demitiram: Cirurgiões, bombeiros, cientistas, professores, agricultores, garis.
ResponderExcluirJogar videogame não considero profissão [relevante].
"profissionais de verdade"?? Olha, seu conceito de profissão é extremamente excludente, atrasado e classista! Você (assim como outras pessoas de visão curta) enxergam que uma profissão "de verdade" é dada pela antiguidade do ofício ou pela necessidade, sem considerar que o tempo passa (ainda bem) e que surgem novas carreiras (ainda bem). Como assim trabalhar com videogame não é profissão? O mercado do entretenimento movimenta milhões, a diversão é uma necessidade básica do homem e estratégica para a política e para as relações humanas (basta lembrar dos espetáculos na Roma antiga). Tenho vergonha alheia de ter lido algo tão reducionista.
ExcluirDoa, você é funcionário público? Pensa em se demitir para ser jogador de videogame? Me conte quando esse dia chegar.
ExcluirAnônimo, quanto ao seu primeiro comentário o Doan falou mais ou menos o que eu acho. Pensando com meus botões me ocorreu de que talvez você estivesse tentando dizer profisssões "essenciais", do tipo que precisaríamos mais em caso de uma catástrofe, por exemplo. Aí pra mim faz mais sentido o que você colocou. Discutimos o seu comentário no twitter e um broder por lá indicou um link pra você procurar histórias envolvendo as profissões que você citou: http://permita.me/?q=abandona+carreira+sonho
ExcluirEm relação ao segundo comentário, não me parece que você leu o post todo. Eu até li de novo pra ter certeza de que não tinha falado sobre abandonar o emprego pra virar "jogador de videogame". De repente se você ler ele todo vai ver que bato mais na tecla de buscar alternativas à um emprego que esteja te fazendo infeliz. ;)
Deixa eu ver...o autor é provavelmente um daqueles da "Geração X" (ou Y, ou Z, sei lá em qual geração estão agora) que é basicamente um hedonista que pensa no próprio prazer, que não liga para o futuro e topa trabalhar "com o que gosta" recebendo só o suficiente para "pagar as contas", e que daqui uns 20 anos, quando ele estiver passando dos 40, com a saúde começando a entrar em declínio e com as portas do mercado de trabalho fechadas para ele, vai se arrepender amargamente de algumas - ou da maior parte - das escolhas que fez.
ResponderExcluirParafraseando não lembro quem, envelheça, meu caro. Boa sorte !
"Pedro, acredito que você seja jovem e pense muito no próprio prazer. Acho importante tomar cuidado para não negligenciar o futuro em prol de poder trabalhar com o que gosta. Caso contrário, daqui a uns 20 anos pode ser que você encontre dificuldades no mercado de trabalho e acabe se arrependendo de algumas decisões."
ExcluirViu, tem como falar mais ou menos o que você disse sem ser o dono da verdade e de quebra respeitando opiniões que não batem com a sua! ;)
Boa sorte!
Quantas pessoas hoje se matam de estudar, para se matar de trabalhar, pra que no fim da vida tenham alguma coisa, mas aí morrem. Adiantou algo?
ExcluirConcordo com o Pedro, trabalhe com algo que te deixe feliz, seja feliz agora, busque alternativas pra isso. Nunca sobreviva agora, para poder viver no futuro. Viva agora, e então você sobreviverá.
É muito difícil, está decisão porém importantíssima para a qualidade de vida plena e genuína de cada um. Estou em um emprego massacrante, em que sou hostilidade quase todo o dia. E que o farei? Com funcionários e principalmente uma que é conhecida pelo prefeito, pois sou funcionária pública. Já até pensei em fazer atentados contra eles como em Realengo, mas a hipótese mais plausível que vem em minha cabeça é apenas EU me suicidar. A cada dia mais perco o medo do inferno, pois já o experimentei várias vezes e até cogitei em comprar cianureto para mim no mercado negro. Já o tentei, o suicídio mais de trinta vezes com medicamentos, alguns de conteúdo desconhecido... ...pedi ajuda a Deus e até fiz rituais mágicos para buscar uma saida, mas talvez ela não venha.Já não sei se não gosto mais de trabalhar nesse serviço ou se não gosto mais de trabalhar. Estou deveras muito frustada. Mas porém soube de um concurso da Receita Federal neste ano e isso me soa como uma esperança, pois além de não me ingressar mais como Pessoa com deficiência poderia ganhar um salário mais alto, e, também mostrar que mesmo eu sendo negra e autista posso receber muito mais do que eles e até o secretário. É nisto que me escoro! Seu texto mais as respostas foram esclarecedoras para mim!
ExcluirOlá Pedro!
ResponderExcluirOlá leitores do Pedro!
Não tenham certezas, tenham dúvidas!
Façam escolhas. Banquem suas escolhas. Escolham o que te fazem vibrar.
Escolham o que te dão paz interior.
Escolham o que está alinhado com sua essência.
Banquem suas escolhas.
Essa é minha singela contribuição. Tenho 55 anos. Sempre que eu pedi demissão eu fui mais feliz. Sempre que escolhi o que estava alinhado com minha essência, vivi os melhores momentos da minha vida.
Se você olhar para meu saldo bancário não dirá que tive sucesso na vida, mas se olhar as cicatrizes dos tombos que levei brincando com meus filhos, eu sou o sucesso, porque isso dava e ainda dá sentido para minha vida.
Obrigado.
Li teu comentário em voz alta para a minha mulher e ela disse que ficou até arrepiada. Achei incrível. De fato medir sucesso pela conta bancária pra mim não faz sentido. Felicidade e experiências são o que contam no final. Muito obrigado mesmo pela sua contribuição!
ExcluirO comentário do Roberto Sanchez é o melhor!
ResponderExcluirCara, entendi sue ponto de vista. E concordo!
Sucesso meu caro, esse blog esta show de bola.
Abraço!
Até te mandaria um twitter, mas não mto adepta a essas tecnologias, ainda uso o facebook mas espero um dia me libertar ... hehehehe
ResponderExcluirAcredito que não haverá um emprego que você goste de tudo ... mas tbm se começa a ficar triste o tempo todo pelo trampo ta na hora de mudar, ou um trampo que "sugue sua energia vital' não rola... por isso acho importante a gente focar no que realmente é essencial pra gente no sentido material mesmo, pq quanto menos a gente desejar em termos financeiros , e menos precisarmos acumular, mais livre seremos. ..
abraço
Exato Bia! Creio que é impossível ser feliz no trabalho 100% do tempo, não importa qual trampo seja. Quando a situação fica preta, o mais certo é mudar. Obrigado por comentar aqui, conta muito! Abraço! ;)
ExcluirTô nessa: Ganho muito bem pelo meu trabalho ( func.pub.), mas estou insatisfeita, tvz, aparentemente, sem um motivo muuito relevante para outras pessoas:
ResponderExcluirSinto q preciso passar mais tempo com minha mãe, q tem saúde frágil, sente minha falta e eu a dela.
Quero mudar meu horário de trabalho, o q vai diminuir dois mil reais do meu salário mas possibilitaria passar mais tempo com a família.
Fico constrangida de expor esse sincero motivo pro meu chefe pq vai causar muito espanto. Se depender dele, sei q ficaria na função até me aposentar.
Fiz planejamento financeiro p conseguir administrar essa diferença a menor no salário, mas, apesar q sei q após pedir p mudar de área eu me sentirei mais "livre", sempre bate um medo de estar jogando muito dinheiro pro alto, além da reprovação de muitas pessoas pela minha atitude.
Trabalhei uma época em faculdade pública, e os assistentes sociais podiam pedir redução de jornada , recebendo proporfionalmente menos ... A maioria pediu ... Dava um boa diferença no salário ... Se vc vai conseguir se manter com o básico pedindo redução de horário eu pediria tbm , ainda mais que tem sua mãe doente.. acredito que vão te julgar menos do que imagina.
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