As viagens que fiz mudaram quem eu sou.
Minha família sempre foi de classe média, nada demais, nunca abastada. Por isso, nunca tive a oportunidade de viajar pra fora quando era pequeno. Fiz algumas viagens dentro do Brasil mesmo, mas nunca por vontade própria. Sempre acompanhando meu pai ou minha mãe em alguma visita ou algo parecido.
Quando era um pivete que se achava skatista, fui visitar uns parentes em Brasília. Pequeno, mal saí do apartamento em que ficamos, só dava uns rolês de skate pelas redondezas. Em 2006 fui pra Santo Amaro da Imperatriz, cidadezinha aqui do lado de Floripa. Pulei de parapente pela primeira vez na vida e foi massa pra caralho! Mas pô, é uma cidade aqui do lado. É quase tudo igual. Em 2007 fui visitar meu vô no interior de Minas Gerais. Legal conhecer uma cidade nova e tal, mas era uma cidade minúscula, sem muitos atrativos. No mesmo ano conheci Vitória/ES. Passeio legal, mas eu estava era perdido por lá seguindo minha véia. Simplesmente não tinha uma vontade aflorada de conhecer coisas novas. E além do quê todos esses lugares eram diferentes de onde eu cresci, mas de certa forma eram iguais. Ainda era Brasil.
Eis que em 2010 surgiu a ideia entre meus amigos de ir pros Estados Unidos. “Hmmmm, Pedrão playboy”. Calma aí. Era aqueles programas de trabalho, manja? Chamava “Work and Travel” e na metade do ano eu e mais 2 broders tínhamos decidido entrar de cabeça nessa parada. E assim me mandei pra gringa pela primeira vez. Muito mais por ser uma parada massa pra fazer com os amigos do que por viajar em si. E foi aí que tudo mudou pra mim.
Cheguei nos EUA muito cru. Sabia pouco do mundo, pouco do país. Meu inglês era pra lá de meia-boca e eu não sabia bem o que esperar, mas me deparei com um novo mundo na minha frente. TUDO era diferente.
Chegando de avião: "CARAAAAAAAALHO! NEVE NEVE NEVE NEVE NEVE NEVE NEVE" |
Lembro de chegar no aeroporto de Dallas olhando pra todos os lados como se estivesse em outro planeta. Entrei numa banca e vi um milhão de nomes de revistas e produtos que nunca tinha visto antes. Olhei pra uma lata de energético que parecia bom, olhei pro meu amigo e gastamos nossos primeiros 4 dólares. Falei em inglês com a mulher do caixa. Paguei em dólar. E fiquei feliz pra caralho. Porra, era tudo novo. Lugar diferente, moeda diferente, língua diferente e tomando uma porra de um energético diferente.
Durante os quase 4 meses que fiquei lá nos EUA, trabalhei muito e viajei pouco. Mesmo dentro da cidade onde eu morava, ainda restaram coisas pra conhecer – e me arrependo até hoje. Mas mesmo trabalhando, tudo era novo. Trampava em um hotel manobrando carros dos clientes. No outro trampo que tinha, era atendente num boliche que ficava dentro de um bar de hotel. Falava inglês, recebia gorjetas em dólar, comia coisas diferentes. Os supermercados eram imensos. Os eletrônicos eram baratos. McDonalds, que aqui é coisa de rico, lá era de pobre. Comprávamos 10 sandubas e congelávamos pra comer durante a semana. Nevava na cidade e pegamos -25º C enquanto o máximo que eu tinha pegado em Floripa eram uns 7 graus positivos. Morava com 7 amigos ao invés de morar com a minha mãe. TUDO era novo. TUDO era diferente. E comecei a pegar gosto pela coisa. Imagina você não ficar mais entediado, já que qualquer pequena coisa que queira fazer na rua é um desafio. Imagina você deitar a cabeça no travesseiro e pensar “cara, tô do outro lado do mundo”. É uma sensação incrível pra quem pouco tinha saído do sofá antes na vida.
Mas pra quem pouco saiu do sofá, viajar assusta. Com menos de 3 meses queria voltar pra casa – ainda que não de forma tão desesperada como outros que por lá estavam. Tinha saudade da família, do conforto da minha casa, de não ter que trabalhar que nem um condenado em 2 empregos. Tava homesick. Lá nos EUA, alugamos carros e visitamos Las Vegas e Salt Lake City, mas ao final dos 3 meses e pouco de duração desse programinha de intercâmbio, eu tava era feliz em voltar pra casa.
Mas estar em casa é entediante. Vou generalizar um pouco mais: ter uma rotina onde você morou durante a vida toda é entediante. Porra, você compra as mesmas coisas pra comer, interage com os mesmos amigos e membros da família, visita os mesmos lugares, cumpre os mesmos horários. Sempre. Eu fico entediado fácil, mas uma rotina assim entedia qualquer um. Acredito fortemente que esse é um dos motivos pras pessoas ficarem tristes às vezes. Parece que a vida não apresenta nada novo. Chatice dos infernos.
Tédiozão no sofá. Quem nunca? |
Pensei sobre tudo isso depois de alguns meses do meu retorno ao Brasil. Foi quando me toquei que o tal “mosquito do mundo” tinha me picado. Queria conhecer outro lugares, queria desafios. Queria sair do meu sofá. E foi assim que decidi criar pra mim o maior desafio da minha vida: ir morar na China.
“Cara, mas por que a China?” é o que muitos me perguntavam. "Por que não?", eu respondia.
Surgiu uma oportunidade de ir pra lá e eu não pensei duas vezes. Eu estava acabando as graduações que fazia e estava desesperado por algo novo. Queria um desafio. Que lugar melhor pra ir do que um literalmente do outro lado do mundo, onde TUDO É DIFERENTE. Opa, eu falei isso dos EUA também, né? ESQUECE. Nos EUA tudo é parecido comparado com o choque que tive quando cheguei na China!
Tartarugas na peixaria do supermercado. Coisa mais normal do mundo. |
Não sabia falar uma palavra de chinês, nem oi. Sério. E pra lá eu fui. Tinha um contato lá do cara que seria o meu chefe e isso foi produtivo logo de cara. Porque eu, muito organizado, não tinha sequer pensado em um jeito de ir do aeroporto para o hostel que tinha reservado. Na China, cara. Na China! Que burro, dá zero pra mim. Mas fui salvo pelo meu futuro chefe, que tinha mandado um maluco ficar lá no aeroporto com uma plaquinha de “Mr. Pedro” pra me levar pro hostel. UFA. Escapei dessa.
No hostel falavam inglês na recepção, então eu e a patroa, que tinha embarcado comigo nessa aventura, conseguimos nos virar fácil na primeira noite e dormimos felizes, do outro lado do mundo e exaustos depois de 40 horas de viagem. No dia seguinte, saímos pra conhecer esse novo universo com brilho nos olhos. Só faltava pular de alegria.
Onde passamos nossas primeiras noites na China |
O primeiro choque que você leva é no supermercado. Não só você não reconhece nenhuma marca e não consegue ler absolutamente nada, como metade dos produtos sequer sabe o que é. “VISH! Qual água é a com gás, qual a com gosto, qual a mineral?”. “Isso aqui tem sabor de quê?”. Perguntas que no dia a dia, na sua cidade, você não faz, mas que lá eram bichos de sete cabeças, quase impossíveis de serem respondidas. “AH, mas você falava inglês!”. Esquece. Nas ruas da China, parceiro, só dando muita sorte ou encontrando um estrangeiro pra falar inglês, porque de resto eles só sabem falar “élô” (Hello).
E esse foi só o começo da minha vida por lá, numa loucura que durou quase 2 anos. Poderia escrever um texto enorme falando sobre minhas aventuras nesse país incrível, mas o meu ponto aqui é como viajar te tira da zona de conforto. Você vê coisas novas toda hora, pode enfrentar desafios até pra comprar uma água no supermercado. Tudo é novo e interessante. Você conhece pessoas diferentes, que fazem coisas que você nunca imaginaria. “Porra, por que esses chineses estão comendo macarrão apimentado às 7 da manhã?”. Sua mente se abre e você começa a respeitar mais as diferenças. Você cresce e amadurece como pessoa.
A experiência na China foi um exame para o qual eu já sabia o resultado: estava mesmo infectado pelo vírus do mundo. Comecei a fazer planos de conhecer outros lugares. Quando fiquei entediado da própria China, visitei as Filipinas na melhor viagem da minha vida até hoje. E agora, já quase há um ano de volta ao Brasil, não aguento mais ficar aqui. Não pelo país em si, tô tranquilo aqui na minha terra. Mas pelo tédio que morar aqui me trás. Quando tem tanta coisa pra conhecer no mundo, qual o sentido de ficar sentado no seu sofá? Hoje em dia vejo isso como tempo desperdiçado de uma vida que, sabemos, é curta.
Viagem: a única coisa que você compra que te deixa mais rico |
E planejo morar fora de novo em 2016. E tô indo visitar a Colômbia em 1 semana.
"AFF. Bixo pagador"
O que menos quero aqui é pagar sapo de viajador, de conhecedor do mundo. Não, nada ver. Minha intenção é só tentar abrir os olhos de muitas pessoas pra diferença que sair da zona de conforto e conhecer coisas novas pode fazer na sua vida. Tem gente que viajou a vida inteira e vai achar esse post uma porcaria, mas muita gente mal saiu da sua própria cidade e pior, não tem vontade de sair. Eu sei porque já fui assim, mas escrevo esse post como um conselho de amigo pra amigo. Um conselho que gostaria que tivessem me dado mais cedo: VIAJE!
E não crie desculpas. Como falei neste post aqui, a coisa mais fácil que existe é criar desculpas pra algo que temos medo de fazer. "Ah, mas não tenho dinheiro". "Ah, mas viajar sozinha é perigoso". "Ah, mas não sei falar a língua". "Ah, mas...". MAS NADA. Se joga! Não tem grana? Procura passagens mais baratas. É mina e tem medo de viajar sozinha? Veja como não é tão perigoso assim. Não sabe falar a língua? Meu chapa, é indo pra fora que você aprende mais rápido.
“Que textão gigante do caraca, não vou ler”.
Beleza, vou resumir meu ponto de vista:
O mundo é um livro e quem não viaja lê só uma página |
Se consegui de alguma forma aumentar o seu interesse por viajar nesse mundão, deixa eu te recomendar uns links:
Melhores Destinos - os caras caçam passagens em promoção, sempre tem coisa barata por lá
Mundo de Viajante - blog da patroa que fala sobre as experiências de viagem dela
/r/EarthPorn - subreddit pra lugares incríveis desse planeta
muito foda cara...
ResponderExcluireu tenho essa vontade, mas o que me falta é o dinheiro, ao menos um pouco de dinheiro para pagar a passagem e ir para austrália e arrumar um emprego e tentar um tempo lá, sozinho e satisfazer essa vontade louca de me virar sozinho.
e logo quero tocar a neve pela primeira vez e conhecer aqueles castelos lindos da europa, bom é um sonho complicado para tentar isso em poucos anos, mas olhando esse post, a vida é curta e tenho que tentar certo?
Desculpa me intrometer, mas me vi obrigada a te responder!
ExcluirÉ isso mesmo, vc tem que tentar e o quanto antes. Talvez nem seja tão caro quanto vc imagina: no Melhores Destinos (linkado ali no post) eu cheguei a ver passagens para a Austrália em torno de R$2.000, ida e volta + taxas. É só economizar, ver o que precisa e se jogar!
Se estiver interessado, lá no meu site tem umas dicas de economizar com passagem, acomodação e etc ;)
Abraços!
Dinheiro costuma ser o maior problema. Mas a única solução é tentar fazer mais dinheiro e economizar. Creio que dando uma planejada e apertando os cintos se necessário, é possível sim expandir os horizontes e sair pelo mundo! Obrigado por comentar e desculpa por responder quase UM ANO DEPOIS! Abraço!
ExcluirQue post!
ResponderExcluirAdoro o jeito simples como você expressa os sentimentos, sobre as sensações que viajar traz e sobre as surpresas diante de coisas novas.
Mas eu sou suspeita em falar de viagens, né? Se pudesse, carregava todo mundo pelo mundo comigo!
Muito obrigada pela indicação do http://www.mundodeviajante.com/ <3
Beijão!
Obrigado, pessoinha! :D
ExcluirCara tenho muita vontade de fazer isso também !
ResponderExcluirMorar algum tempo fora. Mas a minha inseguraça é não entender nada do que falam e dos meus aparelhos auditivos quebrarem, e não ter como arrumar. Uso logo dois.
Puts, aí é complicado. Mas isso acontece com frequência, já quebrou alguma vez? Porque se acontecer com certeza dá pra arranjar um novo lá fora, ou pedir para alguém te enviar do Brasil em último caso. Quanto a não entender nada do que falam, essa é uma das graças! Ter que se virar de todos os jeitos que você puder. Mas hoje com a tecnologia é muito mais tranquilo: com GPS você não se perde em lugar nenhum, com o Google Tradutor você consegue no mínimo perguntar coisas básicas na rua e por aí vai. Vale a pena explorar esse mundão!
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